Chapeuzinho Vermelho sai de sua casa rumo à da vovó, levando-lhe as guloseimas feitas por mamãe. Teme encontrar o lobo mau, ou será que o deseja? Ao chegar encontra vovó comida pelo lobo, mas viva. Como assim? Foi comida no sentido literal, ou no figurado? Haveria essa mesma gíria na Alemanha dos irmãos Grimm. Pouco provável? Ou não? Mas a questão parece irrelevante, pois se de fato sobreviveu, a vovó não foi devorada literalmente, isto é, por boca... Trata-se de uma alegoria sexual quase explícita, como quis certo produtor italiano de cinema erótico? Ou os autores só evitam a descrição de cenas de violência extrema, nas quais a velhinha teria suas carnes dilaceradas por um animal feroz, optando por magicamente fazê-la sobreviver?
De acordo com Freud, nada disso! O conteúdo latente explica tudo: pulsões sexuais. Chapeuzinho deseja o lobo, que transa com a vovozinha (se ele soubesse que a jovem estava chegando, o que teria feito?), mas na hora H o caçador muito bem dotado de arma potente, extermina o mal-intencionado lobo, e explode de alegria junto de Chapeuzinho Vermelho e a vovó!
Felizmente, para nossa espécie tornar-se viável, e não terminarmos todos comidos por nossos próprios lobos-homens-canibais, há em nossa mente uma instância chamada SupraEu (Superego, na tradução mais corrente, ainda que empobrecida), que 'castra' nossos impulsos mais incompatíveis com a vida em comunidade antes que se instale o caos. Tal contenção instintiva se torna parte de nossa própria personalidade através da repressão ( Verdrängung ), ainda que faça de nossas vidas meros conteúdos MANIFESTOS, aparências, MÁSCARAS, por trás das quais só podemos encontrar um número infindável de outras máscaras.
Fica a pergunta: já que somos incapazes de atuar senão por trás de máscaras, mais ou menos impostas por forças desconhecidas de nós mesmos, qual pode ser o critério a distinguir entre o real e o irreal?
Sobre qual desse infinito número de máscaras pode fundamentar-se nosso conceito de realidade?Fica a pergunta: já que somos incapazes de atuar senão por trás de máscaras, mais ou menos impostas por forças desconhecidas de nós mesmos, qual pode ser o critério a distinguir entre o real e o irreal?
Esse questionamento se constituiu no 'motor nuclear' [Leitmotiv] da tese "Genealogia do Real ( Nietzsche e Freud )", com a qual o autor deste blog obteve seu doutorado junto ao Departamento de Filosofia da Universidade de São Paulo.
NOTA: Para esta análise temática, feita sob o prisma de Sigmund Freud, aqui nos valemos da distinção que faz entre conteúdos latentes e manifestos, tão bem exposta na sua 'A Interpretação dos Sonhos' ( Die Traumdeutung, 1915 ).
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