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September 21, 2013

EL CONDOR PASA

“Alguma coisa acontece no meu coração,
Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João”
                                 Caetano Veloso, Sampa.

Por um bom tempo em minha vida, eu não tive este medo deles. Penso que por décadas me tenham sido tão distantes e pouco conhecidos, que apenas me lembro de admirar vagamente seu voo, tão solitário, por entre inalcançáveis cumes andinos.
Quando procuro as causas para tão radical transformação de meu sentimento, nunca encontro nada. Ouvi conselhos para tentar relembrar as primeiras imagens que dele tive na infância, supostamente ricas já em angústia em estado embrionário. Assim seria, diziam, no início de todos os medos irracionais. Não, porém, no meu caso. Nada há, que possa ligar à origem de meu pavor, exceto um único fato ridículo: um inocente diálogo acerca da pronúncia correta de seu nome.
Paco, meu amigo peruano, vivendo em São Paulo, tão distante de seu país há muito tempo, falava-me do esplêndido vôo dos condores. Quase sem sotaque, exímio aprendiz de nossa prosódia, no entanto, pronunciou a palavra cÔndores, assim, colocando o acento tônico na primeira sílaba, como é a maneira correta em espanhol, mas um erro bem conhecido  em português. Eu, assumido sabe-tudo inveterado, o corrigi de imediato: “acentua-se a segunda sílaba, Paco: condOres, nunca cÔndores”.

Ele retrucou: “Você se engana. Chamam-se côndores”.

“Em sua língua, sim, Paco, tenho ciência disso. Mas em português, não! A pronúncia consagrada é condor, jamais côndor”.

Polidamente, ou presumindo agir assim, eu disse, na ocasião, só essas poucas frases e nada mais. Foram suficientes para Paco proferir sua frase tão banal, mas poderosa. Essa mesma frase que, de uma só vez e para sempre, desencadeou em mim esta tormenta em torno da qual meus incessantes pensamentos não conseguem afastar-se.
Mirou meus olhos, com seu rosto de príncipe inca, com sua cabezita negra, e mostrando um desdém sutil e sarcástico, lançou-me aquela afirmação, aparentemente apenas tão verdadeira e irônica. Foi-me, todavia, fatal:

 ''Em Portugal não há côndores ''.

Deixou evidente, ainda outra vez, quão inteligente era, assim como criativo e dono de um fino senso de humor. Evidenciou-se, também, minha fragilidade de sabe-tudo.
Imediatamente pus-me a rir em voz alta. A partir desse mesmo riso emergiu meu pavor. Este que, minutos depois, se instalou em mim com toda virulência, para nunca mais partir.
Paco nada parece ter notado. Sem dizer mais palavra, saí de seu estúdio de fotografia, já incapaz de olhar para o alto. Era como se estivessem subitamente ali, próximos ao centro de São Paulo, recém-chegados de seus picos andinos.
Não temo que me ataquem como fazem os falcões com suas presas. Isso seria estúpido, pois sempre soube que, a despeito de seu porte, condores não capturam animais vivos. Tanto menos um humano vivo.
Tenho medo, sim, de dirigir meus olhos para o céu e assim poder encará-los de frente. Medo de defrontar-me com sua negritude e com seus olhares, aqui no meio deste amontoado de concreto empilhado em que se transformou esta gigantesca e deprimente megalópole em que vivo.
Paro minhas caminhadas por breves momentos, só para imaginar  seu vôo acima dos mais altos arranha-céus, construindo seus ninhos dentro dos apartamentos abandonados. Devaneando, sou capaz de vê-los, sem tirar os olhos do chão, esvoaçantes às centenas ao redor das torres de radiodifusão do planalto da Paulista.
Se, por qualquer razão, me perguntam o que é que me faz tão desanimado e cabisbaixo, mesmo em locais hermeticamente enclausurantes, como o metrô, procuro fazer ouvidos de mercador, desconversar. Se insistem na questão, digo que estou apenas um pouco triste, uma vez que esta é, dizem, uma postura típica de uma pessoa  triste. Mas isso é, obviamente, mentira. Não há tristeza em mim. Este meu pavor nunca me entristeceu. Pelo contrário, tantas vezes isso me faz mais alegre.

Como prossegue esse conto? Algum palpite? 

Dê uma olhada nesse romance sui generis, 'A Coruja de Minerva' (link abaixo) , em que o narrador se descobre em suas personagens e por elas se apaixona. 'El Condor' faz parte dele.

Estilo kafkiano? Pós-moderno?

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