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June 11, 2021

Nota Metodológica: Ente Bio-Psico-Social?

As ciências empíricas, ao tomarem, em inevitável tautologia, o próprio ser humano como objeto de estudo e dirigirem 
seu foco de atenção ao próprio agente de qualquer conhecimento possível, deparam-se com uma encruzilhada de duas vias de abordagem, origens de duas séries bem distintas de dados de observação:

1ª) A dos fenômenos ditos biológicos, senso strictu, que se dão a conhecer como eventos corpóreos, e que compõem um conjunto de dados apreensíveis, direta ou indiretamente, pela sensopercepção;

2ª) A dos fenômenos ditos mentais, que se deixam apreender apenas indiretamente e através da linguagem, seja ela verbal ou não-verbal,

Dessa cisão, que se impôs desde sempre, e forçosamente, à capacidade humana de conhecer a si próprio, uma tarefa complexíssima, resultaram:

A) As Bio-Ciências do Homem;
B) A Psicologia (incluida aqui a Psicopatologia, e outros ramos derivados);

Resultaram também opções metafísicas inerentes a essa mesma condição de sujeitos de conhecimento, que podemos sumarizar em duas tendências fundamentais:
A) Abordagem Dualista: de acordo com a qual, o ser humano é o resultado da interação de dois componentes essenciais, quais sejam,
1. O corpo anatômico, e
2. A alma imaterial.

A concepção de Descartes, bastante conhecida, atribuía à glândula pineal a sede da alma humana, de onde esta comandaria o corpo.

B) Abordagem Monista: o ser humano é um ente uno, indivisível. Não existe uma substância humana corpórea, que seja tanto oposta quanto coexistente, num mesmo indivíduo, com outra substância imaterial e anímico (alma, espírito).

Kant, em sua 'Crítica da Razão Pura' (1782) já nos demonstrou que certas perguntas não têm resposta dentro dos limites da pura razão. E esse é o caso entre dualismo e monismo nas ciências do homem.
Entretanto, como já deixamos claro em postagens anteriores deste blog ('Problema Corpo-Mente' e 'Realismo Metafísico versus Instrumental') nossa prática clínica psiquiátrica nos levou desde cedo à opção pelo Monismo Instrumental.
RESUMO:
Nossa opção metafísica, inspirada e corroborada por nossa prática clínica é:
O ser humano é ente único, indivisível e singular.
Sendo obcecado pelo conhecimento (comeu "o fruto da árvore da sabedoria", no relato do Genesis), a ponto de julgar-se capaz até de conhecer a sua própria espécie.
Tomamos por errôneo dividi-lo em dois entes, ou atribuir-lhe duas facetas (alma e corpo) a interagir e dar-lhe vida. Tal partição decorre forçosamente da limitação dos métodos de abordagem de que esse mesmo ser singular, não-divisível (indivíduum = latim significando 'não divisível') tem que valer-se ao partir em busca do conhecimento de seus iguais.

ADVERTÊNCIA: O leitor não deve cair na tentação de ver aqui uma validação de qualquer tipo de reducionismo: seja psicológico ou orgânico! Que fique claro que nem uma abordagem nem outra deixa de ter suas severas limitações, o que torna inevitável, e até salutar, que tanto se degladiem.




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