Em sua coluna de 31/12/2013, o mencionado Professor de Filosofia, na Folha de São Paulo, analisa estudo de James Fallon, neurocientista
que procurava as “falhas” do cérebro de indivíduos psicopatas (sociopatas), e que acabou por
constatar que, ele mesmo, possuía um cérebro com tal estrutura supostamente
inadequada para o convívio social. Justo alguém cuja opção de vida é lutar pelo avanço da medicina, atividade tida como altruísta por excelência.
Nesse breve e perspicaz
artigo, o Professor Safatle dava por demonstrado o quão falacioso é o argumento dos organicistas que, ao correlacionar estados cerebrais a certos eventos psicopatológicos,
tentam sepultar toda teoria psicodinâmica do comportamento, ousando até alegar a
inutilidade e o absurdo das mesmas.
Seu texto atribuía ao "neurocientista psicopata" o achado evidente de que dois
estados mentais diferentes correspondiam a um mesmo evento neuro-anatômico e
neuro-fisiológico.
Conhecendo de perto a
questão, dedicando-me ao problema corpo-mente
desde que iniciei minha carreira médica, sempre horrorizado com os pontos de
vista simplórios dos colegas neuropsiquiatras organicistas, creio poder acrescentar
ponderações às do Professor Vladimir Safatle.
À referida interpretação dada por nosso eminente Filósofo, os organicistas responderão que não é bem correta a inferência de que fica provada a possibilidade de dois
estados mentais para um único estado neurofisiológico! Dirão que a diferença de
personalidade e comportamento, forçosamente poderá ser constatada, se ainda não o
foi, em outra estrutura cerebral que neutraliza comportamento sociopático.
Dirão ainda que mesmo que, de fato, a diferença decorra de eventos biográficos,
ela está certamente registrada em estruturas cerebrais específicas, ainda que
por ora possam permanecer desconhecidas.
Como já frisei, abomino simplismos organicistas! Não obstante essa repulsa, atribuo plausibilidade a essa hipótese de matiz "organicista", uma vez que que parto do pressuposto (metafísico) de que o ser humano é composto por uma única "substância", rejeitando assim toda solução dualista corpo-alma.
Corpo e mente são fenômenos derivados de nossa restrição metodológica: duas abordagens de um ser que, em essência é único: o Homem!
Os fenômenos orgânicos se nos revelam pelos sentidos empíricos mais simples, e a partir deles se constróem a Anatomia, a Histologia, a Fisiologia, etc Os fenômenos mentais se nos revelam, em sua essência, pela palavra, e deles se constrói o campo do saber chamado de Ciências Psicológicas.
Algum apressado diria, "então tudo é mesmo orgânico". O que rejeito, repito, com toda veemência e força, como bobagem gigantesca! Seres humanos não são coisas!
Toda abordagem do ser humano só se faz através de dois métodos igualmente incompletos, o psicológico e orgânico.
Qualquer tentativa de ultrapassar essa fissura aparentemente intransponível teria que usar uma linguagem nova: nem referida só ao corpo nem só à alma.
Empreendimento impossível?
Não creio!
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