Palavras não
evocam apenas seu significado objetivo, esse que se lê em dicionários e é
reconhecido por quem fala um mesmo idioma. Quando um bebê ouve uma palavra pela
primeira vez, sua memória vincula ao som pronunciado não só as características físicas
definidoras do objeto, mas também o colorido emocional do momento em que ela lhe
é apresentada.
Tomemos como exemplo a palavra ‘banana’ sendo apresentada aos bebês X e Y, que
percebem os atributos do objeto, e passam dali em diante a identificá-lo de
maneira unívoca. O colorido emocional desse primeiro contato com banana, porém,
é marcadamente divergente entre eles. Vejamos:
A criança Y, cuja família tem boa posição social com
amplo acesso a alimentação, saboreia a banana, retém dela a imagem unívoca de objeto
determinado. Dentre as emoções evocadas no bebê nesse momento de apresentação não
devem estar angústia de privação alimentar. O contexto familiar não potencializa
os afetos negativos da primeira infância como inveja, despeito, rivalidade
entre irmãos, raiva (Melanie Klein).
X, por outro lado, é
criança de uma família
em pobreza extrema, que sobrevive em luta incessante contra a fome e a carência
de alimentos. Seu pai, com grande esforço, pôde comprar algumas bananas pra
repartir com parcimônia entre os filhos, a mulher e ele mesmo. Para o bebê X, o
pai serviu uma delas, cheio de amor mas também de angústia e medo por saber
quão difícil será seguir comprando alimentos e evitar que a família passe fome.
Assim, X registra na memória o som das sílabas ba-na-na, o sabor, a
consistência e, evidentemente, também o sofrimento estampado no rosto de seu
pai, sob a forma de medo, de angústia impotente, raiva, desesperança, tristeza.
Em conjunto com os dados senso-perceptivos, atributos físicos desse objeto, que
o farão capaz de reconhecer as bananas com que topar no mundo, X registra um
colorido afetivo marcadamente diferente daquele de Y. Brotam nele emoções
vindas de seu próprio sofrimento íntimo, e também das situações familiares penosas.
Este contexto potencializa no bebê afetos negativos, tais como inveja, medo,
rivalidade de irmãos, raiva.
Esses coloridos emocionais, tão diversos entre X e Y, sempre acompanharão, de modo extra-consciente (subliminar), toda a rede de significados associados à palavra 'banana'.
A linguagem
estritamente verbal, através de seus significados objetivos, de dicionário, só
transmite a ‘ponta do iceberg’ da rede de associações de memória que cada
palavra traz consigo.
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