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March 26, 2012

MELANCOLIA, de Lars von Trier. SEGUNDA PARTE: Claire

A personagem do Marques de Sade, Justine, tinha uma irmã, Juliette, também título de outro livro seu. Creio que os leitores deste blog saibam que foi Sade quem inspirou o termo sadismo em Freud, união do impulso erótico com o de morte, depois sado-masoquismo.
Claire é o nome da irmã da Justine de von Trier, casada com John, o podre-de-rico dono da imensa propriedade em que se dá a festa de casamento, com seus "dezoito buracos de golfe".
Clara também é a luz do dia, crucial na ópera Tristão e Isolda.
Logo ao início desta segunda parte, Justine aparece retornando de táxi para a casa de Claire, em profunda depressão. Infere-se que se ninguém tivesse para acolhê-la, sucumbiria de inanição.
Todavia, nem mesmo essa acolhida parece bastar: só se banha à força, não sente o sabor de nada, não quer comer. Nem mesmo Leo, seu sobrinho, lhe recompõe o ânimo ou lhe traz esperança.

Melancolia, o astro invasor, já está bem próximo do Sol, de Mercúrio depois Vênus, a caminho da Terra. Ocorre algo de inusitado: Justine se sente atraída pela luz que se irradia de Melancolia.
Talvez a mais bela cena: Justine a banhar-se sob a luz de Melancolia, nua, inebriada, forte, disposta e já sem angústia ou medo! Sua depressão desaparece a partir dali.
Nesse banho de luz, a força que se apodera de Justine é de nova natureza, nem Eros nem Thanatos, é a fusão desses dois impulsos.
Eros, o d/Deus do desejo de reprodução, impulsionador da vida. Thanatos, d/Deus da morte, da renovação da Terra, também propiciador da perpetuação da vida.
Com a fusão de Eros com Thanatos não haverá mais morte, nem vida! Daí só decorrerá o Nada, a única força redentora em Wagner e Schopenhauer.
Com a aproximação crescente do astro ameaçador, Claire passa a demonstrar muito medo. Não se lamenta pelo fim da humanidade, senão pelo pequeno Leo. Garoto genial, cria uma engenhoca, extremamente simples e eficiente, para saber se Melancolia se aproxima ou se distancia de nós.
Nem seria, pois, preciso ter um Leonardo da Vinci entre nós para dispensar toda tralha tecnológica, que querem convencer-nos imprescindível para viver. Com dois pedaços de arame retorcido fica demonstrada a inutilidade de um sofisticado telescópio, e de todas as controvertidas análises dos astrônomos na internet.
John, entusiamadíssimo com a ciência e a supertecnologia, conforta Claire: "é evidente que não haverá choque com a Terra". Os bons atrônomos já teria demostrado tudo matematicamente! Suas certezas estatísticas, sua arrogância, mesmo suas mentiras, lembram os senhores economistas antes de eclodir a crise em setembro de 2008. Estes asseguravam pomposamente à humanidade que seus elaboradíssimos cálculos de oferta, procura, função consumo, utilidade, curvas de crédito, utilidade marginal, etc, etc, etc, junto com a hipótese das expectativas racionais, davam plena segurança ao sistema econômico mundial. Palavras, palavras, palavras, nos dias de hoje vêm com cálculos, cálculos, cálculos. É sabido que muita gente se suicidou com a crise de setembro de 2008, ainda em curso. Seriam pessoas envergonhadas por seus erros e trapaças? Ou meros covardes como John?

Claire pensa em receber o fim dos tempo com pompa, junto a uma mesa na varanda, ouvindo boa música. Justine diz-se enojada: que m... de proposta essa! O fim do mundo, para quem vive de ostentações tinha que ser outra repetição vazia de gestos sem significado. Gestos, cuja emoção ninguém sabe em que lugar do passado foi perdida. A pompa só serve para evitar perceber o momento presente, o aqui-agora. Outra forma de ausentar-se! Até mesmo no instante da morte, do fim do mundo, Claire pensa assim.
Nestes nossos tempos de séculos XX e XXI, nem ao morrer podemos ser livres e autênticos: até a sinistra já vem pronta como comida de fast-food.
Justine mostra tendências paranormais: havia acertado o número do tolo sorteio de sua festa: 678; afirma saber com certeza que não há qualquer forma de vida fora da Terra, e que o fim chegou porque aqui só há lugar para o mal. De seus dedos emanam raios misteriosos.
Quando Leo diz que "não há nada a fazer" para evitar o choque, o pior, Justine lhe diz que John se esqueceu de mencionar ao garoto a cabana mágica. Como na mágica não existe o impossível, haveria de ocorrer nela alguma forma de evitar o fim de tudo. E, assim, constróem uma 'cabana' com galhos secos, onde permanecem Justine, Claire e Leo até Melancolia engolir a Terra.

Estaria nessa 'cabana mágica' um fio de esperança dado por von Trier? Poderiamos ler aí a sutilíssima mensagem de que as crianças de hoje ainda possam talvez reverter a destruição inexorável da Natureza, da Terra?