- INTRODUÇÃO: REJEIÇÃO AO REALISMO METAFÍSICO
Não pude concordar com o nosso colega Alonso, quando disse
que a questão sobre as categorias classificatórias dos assim chamados "distúrbios mentais" serem naturais ou não, posta pelo colega Espinosa, ficava ali impertinente naquele momento. Não deveria ser discutida entre médicos. Pelo contrário, a meu ver, era e é tudo o que de mais essencial se deve pôr em discussão ao se conceber ou revisar nossa concepção de distúrbio(s) mental(is). Que não me
tomem por partidário desta ou daquela corrente em psiquiatria: já
durante meus anos de residência --- haverá quem se lembre --- denunciei o sectarismo entre organicistas e psicogeneticistas, e julgava ser a única
opção honesta a dedicação plena a ambos os caminhos.
O momento mais grave de nosso bate-papo --- me remexi na cadeira --- ocorreu quando meu ex-residente Lorenzo disse que devemos olhar para a Natureza para "ver a obviedade" das categorias, que já estariam ali, independentemente de qualquer variação da capacidade humana de percebê-las. Assim, estaria justificada a busca por critérios cada vez mais "categorialmente objetivos" nas classificações de "Doença Mental"... Lorenzo faz parte desse grupo de colegas que traduz erroneamente disorder por 'doença'.
Até você Lorenzo! que já leu Kant??!! Et tu, Brute? Ah, eu bem que percebi que você não havia entendido o Grande Kant! Na "Crítica da Razão Pura" ( Kritik der reinen Vernunft,
1781 ) ele descartou para sempre esse 'realismo ingênuo' que põe a
origem de toda categoria do entendimento humano nos objetos empíricos. Assim como tempo e espaço ( lembrem-se de Einstein, da Física Quântica e Relativística ), as categorias do entendimento,
base de toda classificação, são dadas A PRIORI em nossa mente. Jamais poderíamos perceber qualquer objeto sem tempo, espaço, causa, efeito, uno, múltiplo, etc.
Aqui desta posição de observador, opino que tanto DSM V quanto
CID 11 não poderão prescindir de um rigoroso embasamento filosófico e
linguístico, onde realismo ingênuo e falsas soluções do problema
corpo-mente não terão lugar!
Afirmar que o mundo exterior é simplesmente tal e qual somos capazes de percebê-lo com a ajuda da ciência, sem problematizar eventuais limites intransponíveis ( por estarem fora da alçada de nossa capacidade de sequer vir a apreendê-los ), chamamos acima de REALISMO INGÊNUO. Também podemos denominá-lo de METAFÍSICO.
que a questão sobre as categorias classificatórias dos assim chamados "distúrbios mentais" serem naturais ou não, posta pelo colega Espinosa, ficava ali impertinente naquele momento. Não deveria ser discutida entre médicos. Pelo contrário, a meu ver, era e é tudo o que de mais essencial se deve pôr em discussão ao se conceber ou revisar nossa concepção de distúrbio(s) mental(is). Que não me
tomem por partidário desta ou daquela corrente em psiquiatria: já
durante meus anos de residência --- haverá quem se lembre --- denunciei o sectarismo entre organicistas e psicogeneticistas, e julgava ser a única
opção honesta a dedicação plena a ambos os caminhos.
O momento mais grave de nosso bate-papo --- me remexi na cadeira --- ocorreu quando meu ex-residente Lorenzo disse que devemos olhar para a Natureza para "ver a obviedade" das categorias, que já estariam ali, independentemente de qualquer variação da capacidade humana de percebê-las. Assim, estaria justificada a busca por critérios cada vez mais "categorialmente objetivos" nas classificações de "Doença Mental"... Lorenzo faz parte desse grupo de colegas que traduz erroneamente disorder por 'doença'.
Até você Lorenzo! que já leu Kant??!! Et tu, Brute? Ah, eu bem que percebi que você não havia entendido o Grande Kant! Na "Crítica da Razão Pura" ( Kritik der reinen Vernunft,
1781 ) ele descartou para sempre esse 'realismo ingênuo' que põe a
origem de toda categoria do entendimento humano nos objetos empíricos. Assim como tempo e espaço ( lembrem-se de Einstein, da Física Quântica e Relativística ), as categorias do entendimento,
base de toda classificação, são dadas A PRIORI em nossa mente. Jamais poderíamos perceber qualquer objeto sem tempo, espaço, causa, efeito, uno, múltiplo, etc.
Aqui desta posição de observador, opino que tanto DSM V quanto
CID 11 não poderão prescindir de um rigoroso embasamento filosófico e
linguístico, onde realismo ingênuo e falsas soluções do problema
corpo-mente não terão lugar!
Afirmar que o mundo exterior é simplesmente tal e qual somos capazes de percebê-lo com a ajuda da ciência, sem problematizar eventuais limites intransponíveis ( por estarem fora da alçada de nossa capacidade de sequer vir a apreendê-los ), chamamos acima de REALISMO INGÊNUO. Também podemos denominá-lo de METAFÍSICO.
Fazer a psiquiatria do neurônio sempre foi a alternativa mais fácil. Parece-me análogo a cuidar das peças de uma máquina, que não queremos, ou não podemos saber como nos afeta. É cuidar do aspecto coisa ( objetivável )do ser humano, desprezando que por trás de cada corpo está um sujeito( ainda ) humano.
ReplyDeleteSer psiquiatra de um ser humano pleno, corpo-mente, sujeito-objeto, em interação indissociável, é muitíssimo mais árduo e complexo do que ser um "mecânico de fluidos" das engrenagens neuronais de autômatos.