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March 10, 2024

ALEPH: Especulação Arqueo-Antropológica.

No ensaio "Totem e Tabu" de 1913, Sigmund Freud apresentou uma hipótese antropológica ousadamente especulativa, construída através do entrelaçamento dos revolucionários conceitos de sua teoria psicanalítica, então recém-criada.Uma horda primitiva, semelhante àquelas observadas entre primatas superiores, como gorilas e chimpanzés, é dominada por um macho forte e astuto, que exclui com violência os rivais mais jovens da posse das fêmeas. Até ol dia em que esses excluídos se unem, derrotam, matam e devoram o líder (e pai da maioria), dando origem a uma nova ordem familiar e social. A partir de então não haveria mais tal tipo tão primitivo de "patriarca". Acabava assim a necessidade desse tipo de assassinato hediondo com canibalismo para expulsar os velhos dominanres do topo.Freud afirma que esse parricídio primordial permanece em nosso inconsciente coletivo e dá estrutura ao complexo de Édipo típico das famílias humanas pra sempre. É desnecessário sublinhar, portanto, a sua importância nuclear na constituição de nossas mentes sob uma perspectiva freudiana.

Apresentamos em seguida, através de um conto em estilo mítico, uma forma alternativa de também especular, à nossa maneira, sobre as raízes mais profundas do nosso funcionamento mental

​ALEF

Nasceu perto do grande rio que atravessa um deserto sem fim, à sombra de um enorme baobá, não muito longe do mar. As dores do parto foram fortes, mas a alegria e o brilho logo alcançaram os olhos da mulher que lhe trouxe à vida. Quando criança, ele brincava nas várzeas ao longo daquele mesmo rio tão largo; corria e pulava pela floresta, subia em árvores, e comia tantos tipos de fruta. Tornou-se um jovem forte e musculoso, e logo as mulheres com quem cruzava rapidamente se entregavam àquele belo homem. Aos seus desejos, Aleph facilmente correspondia, ingênuo, suave, cheio de tesãio e ternura.
Logo formavam uma horda errante: ele, então o único macho, cercado por inúmeras fêmeas com suas tantas delícias.
De início, caminharam no sentido das águas do grande rio, até uma manhã fria em que, surpresos, avistaram imenso marcom altas ondas e salgadas. A partir dali, sempre a se amar e procriar, seguiram ao longo da orla marítima, tendo como direção o rumo daquela terra distante de onde vinha sempre o sol.
Em certa manhã muito quente de verão, ao dar-se conta subitamente de que mulheres mais velhas já o despertavam seu desejo, Aleph as abandonou. Estas, porém, ainda que separadas do grupo que premanecia perto dele, passaram a seguir suas pegadas na areia. Ao fazer isso, elas poderiam observá-lo, ainda que à distância. Assim, poderiam ainda sonhar e devanear com o olhos de Aleph..
Sedento pela vida, ansiando por todos os tipos de êxtase e maravilhas, Aleph continuou a buscar por novas terras, tanto quanto por novos corpos quentes e ávidos. 
Tanto pelos que o tinham a seu lado, que ainda podiam oferecer-se a sua luxúria infinita, quanto pelo grupo rejeitado, a horda de errantes crescia.
Aleph trocava, então, cada vez mais, amantes envelhecidos por jovens adolescentes nascidos entre seu povo. Tanto 7umas quanto outros eram logo seduzidos por ele, e se revelavam parceiros quentes, gentis, lascivos.
Aleph não tinha nome algum, assim como ninguém nem nada entre eles. A única linguagem em meio à horda eram os gemidos e gritos das frequentes orgias.
Até que veio um amanhecer, em que avistaram a um outro mar, ou lago, extremamente salgado, denso, a ponto de só pedras e rochedos irem ao fundo em suas águas. Parecia não abrigar qualquer peixe. Assim,durante o percurso ao longo daquela nova margem, só pequenos animais do deserto serviam-lhes de alimento, tendo que ser caçados com dificuldade por entre os rochedos. Por isso, foi com muita alegria que, num amanhecer dourado chegaram à uma foz de rio, cuja água doce desembocava naquele mar tão salgado. A partir desse momento, tendo fácil acesso a comida, aquela horda nômade pôde parar de perambular tanto, e fixou-se ali por muitas estações. Foi nesse bom tempo e lugar que Aleph atingiu o máximo de sua força e beleza de macho humano.
Apaixonava-se por garotas assim que via o desejo quente e maduro em seus olhos, e abraçava cheio de ternura os garotos em que percebia ombros largos o bastante, peitos peludos, coxas musculosas. Esses jovens, gerados nas fêmeas da horda, entregavam-se a ele em êxtase, e o amavam com a fúria dos leões no cio.
Muitos outonos antes, uma das fêmeas mais belas dera à luz um menino, que logo se pareceria muito e cada vez mais com Aleph: no rosto, no cabelo, nos olhos, na sede de poder. Assim que o primeiro desejo forte desse rapaz brotou, ele e uma linda mulher, que talvez fosse a que lhe deu à luz, fizeram amor explosivamente.
Presenciando essa fúria amorosa repentina a poucos metros de onde dormia, Aleph, foi tomado por intenso tesão tanto por aquele jovem musculoso, quanto por ver sua penetraçao em uma de suas mais lindas amantes.
Na margem direita do rio, já perto da foz tão salgada e em meio aos rochedos, aconteceu o encontro numinoso: o rapaz, a primeira mulher que amou, e Aleph. Os três nus, a tocar-se e beijar-se loucamente, as ereções intensísimas rivalizavam em rigidez com a das pedras ao redor. Abraçaram-se, entrelaçaram seus corpos e uivaram como lobos por toda a noitem mais quente daquele verão.
Por serem dois homens idênticos, eles poderiam ter prosseguido a viver e a amar lado a lado, compartilhando cada uma daquelas lindas e daqueles lindos amantes. Quem seria capaz de diferenciar um do outro? E pra quê? Tal teria sido seu destino de machos fortes, corajosos, ávidos por orgias intermináveis: seriam capazes de levar uma só vida de prazeres, a seguir com a horda para sempre rumo àquela terra misteriosa de onde nasce o sol.
Entretanto, algo completamente insuspeitado, veio interromper o que parecia ser o fluxo espontâneo natural de suas vidas. Tal fato, diferente de tudo que viviam, se deu numa daquelas noites de orgia, logo ao final de um intenso e ruidoso ménage-à-trois. Por ter gerado, quem sabe, o rapaz em seu próprio corpo, a mulher se deu conta de que o desejava com mais intensidade do que seu tesão por Aleph. Foi, por isso, capaz de, pela primeira vez, distingui-los. E em seguida, lançando poderosa feitiçaria contra o mais maduro, deu-lhe um nome: “Pai”.
Tendo um nome, "Pai", não seria mais confundido com o jovem. O entrelaçamento de suas identidades, que lhes proporcionara tantos momentos de êxtase, não existia mais. Tentaram então apelando a suas memórIas repetir o trio explosivo, usando das mesmas carícias, beijos, abraços, e toques de mão, que haviam levado aos momentos de maior gozo. Houve alegria, júbilo, mas foi por tudo impossível alcançar aquele mesmo ritmo simultâneo que os levara a chorar e a gritar em uníssono. Perplexos, puderam então observar outro feitiço dela:  chamou o clímax de gozo tido pouco antes com Aleph de “o Passado”. O outro orgasmo, mais forte, que acabara de ter com o jovem, chamou de “o Futuro”. Àquela sensação de tédio e frustração perturbadores em que os três se encontravam pouco antes do amanhecer, ela chamou de “o Presente”.
A partir de então, como seres individualizados, com nomes e noções sobre um fluxo unidirecional de tempo, “Filho” e “Pai”, odiaram-se. Em seguida, Aleph expulsou violentamente Filho, fazendo com que se juntasse aos rejeitados. A mulher matriz de palavras o acompanhou. “Filho e Mãe”, dois nomes que ela acabara de inventar, frustrados e infelizes, ainda puderam conceber outra dimensão do tempo: a de uma vida que teria sido possível se o trio de amantes não tivesse sido desfeito, se o seu amor incendiário ainda pudesse existir como antes. Filho e Mãe nomearam esta dimensão temporal imaginada, ausente e inatingível, de “Eternidade”. O orgasmo explosivo e simultâneo daquele trio, impossível de expressar em palavras, chamaram de “Deus”.
Entre os rejeitados, que só sobreviviam por sonhar e devanear com os olhos de Aleph, Filho, fisicamente tão semelhante a ele, logo foi admirado e desejado por todos. Mãe decidiu ensinar a todo o seu novo grupo a feitiçaria dos nomes e dos tempos. Visto que o gozo com o Pai era “o Passado”, sua condição de rejeitados, “o Presente”, o orgasmo com Filho, “o Futuro”, e a felicidade que poderia ter sido — mas nunca se deu — a “Eternidade”; os rejeitados sentiram-se capazes de se afastar do brilho dos olhos de Pai. Assim decidiram, numa tarde de outono, quando Filho lhes falou de “Deus”, uma alegria, um clímax orgástico indescritível, impossível até de colocar em palavras as suas nuances tão preciosas, e o seu ritmo triplo tão sublime e harmonioso. Sim, inútil tentar dizer algo sobre a intensidade de Deus ou mesmo sobre a veracidade de sua existência. No entanto, ao tentar transmiti-lo para sua nova horda, Filho criou um conjunto mágico e requintado de sons e cadências, para espanto, maravilha e fruição de todos. Assim, ele inventou a Música.
O grupo dos rejeitados, em que apareciam cada vez mais nomes — designando tanto coisas quanto idéias ou sensações — seguiram em direção ao sol poente, trazendo de Aleph lembranças daqueles dias de luxúria, tanto quanto a dor de nunca mais poder ver seus olhos. Nunca, nem mesmo através das infindáveis gerações subsequentes, foram esquecidos aqueles encontros amorosos a três, nem as palavras que Mãe ali criara: Infinito, Beleza, Passado, Eternidade, Deus.

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