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October 14, 2012

A EXTINÇÃO

Acordaste de um sono profundo e viste que tuas mãos se haviam transformado em duas lindíssimas orquídeas. Estas te fascinaram.
Saíste andando por tua cidade gigante e deserta, como que enfeitiçado e orgulhoso por seres, pelo menos em parte, orquídeas.
No entanto, sabias que tais flores são efêmeras, e logo temeste por seu fim. Por isso, a partir de teus braços surgiram folhas verdes para que pudesses ter certeza de que, se as orquídeas tivessem que partir,sua planta como um todo sobreviveria. Algum dia novas e tenras orquídeas tornariam a brotar. Orquídeas, no entanto, precisam de troncos de árvores como suporte para crescerem.
Teus braços saltaram de ti, transmutados em duas grandes árvores.
Aquelas flores teriam, a partir de então, sua vida assegurada.
Perplexo, maravilhado, miraste aqueles vegetais, que antes tinham sido teus braços e mãos. A seguir, prosseguiste tua caminhada sem rumo.
Depois de alguns quarteirões, todo teu cabelo caiu de uma vez ao chão. Cada um dos fios tornou-se uma poderosa minhoca a perfurar, derreter, e transformar todo asfalto em terra.
A pele de teu pé esquerdo tornou-se espessa como escamas. Este membro teu destacou-se de ti, e já era uma enorme sucuri. Tu prontamente imaginaste que ela poderia comer teu corpo inteiro, mas esse animal não te dirigiu nenhuma atenção, rastejando em direção oposta à tua medrosa fuga. Tuas orelhas se tornaram borboletas exuberantes, vivamente coloridas. 
Tua perna direita foi perdida, também, transformando-se em um belo casal de iguanas.
Pensaste que nunca perderias teu próprio cérebro, mas um buraco abriu-se no topo de tua cabeça, na moleira de tua infância, e então todo o conteúdo de teu crânio sentiste escorregar sobre teu corpo como lesmas abjetas,  como baratas, como vermes de todo tipo.
Não obstante isso, continuavas a pensar e a sentir tudo à tua volta com cruel volúpia.
Por teu umbigo aberto, tuas vísceras puderam, enfim, saltar fora. Teus intestinos assumiram uma forma estranha, grotesca, como a de certa erva daninha, que sempre abominaste.. A seguir  caíram ao chão, tomaram raízes, cresceram e verdejaram. A partir de teu baço emergiu um touro, que começou a pastar bem ali ao lado daquilo que parecia ainda permanecer sendo teu corpo. Teu pâncreas saltou alto no ar, transformado em uma galinha. Teus rins em dois morcegos. Também teu fígado voou para longe, como um grande abutre, que riu sarcasticamente ao ver o que de ti restava, disse-te adeus, e partiu veloz rumo às montanhas do Cáucaso.
Tua bexiga floresceu, agora sendo um cogumelo enorme.
Perdeste teu rosto, pois todo teu crânio agora era o casco de uma imensa uma tartaruga... Antes disso, teus olhos já tinham partido como duas nuvens de vagalumes.
Ainda vagando pelo grande deserto que era agora tua cidade, estavas tomado por êxtase cruel e implacável.
Tua coluna vertebral foi-se rumo ao mar, transformada em lagostas incontáveis, lagostins, caranguejos e camarões.
Paraste de respirar, pois teus pulmões eram agora um casal de de golfinhos em cópula.
Teu coração não foi capaz de se transformar em nada além de uma única e solitária mosca.
Quase tudo o que restou de tua pele se tornou punhados de touceiras de folhas, o que restou de teus músculos, dezenas de pequenos lagartos.
No entanto, ainda estavas vivo, sentindo tudo intensa e penosamente.
Só quando teus genitais de macho, finalmente livraram-se de ti, transformados  na ave mais esplêndida que já viste, foste capaz de ver que não havia mais qualquer lugar pra ti sobre a  Terra. Estavas finalmente morto. Extinto.


                                ΩΩΩ


NOTA do autor: 'A Extinção' faz parte da coletânea 'O Sobrevoo da Coruja de Minerva', que está disponível nos sites da amazon (www.amazon.com.br www.amazon.com www.amazon.it e etc.) como livro eletrônico, e-book, no formato kindle.

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